4 de maio de 2010

Corredores


Me salve. Me perdi dentro de mim. Num cantinho que não ter cor, claridade ou lua. Me perdi dos meus medos que desconheço, da minha insegurança que me segura. Das dores de amores que não tenho.
Por favor me encontre ali. Aqui dentro de mim.
Soltei da minha mão no supermercado. Já faz tempo que caminhei pelos corredores, encontrei vários eus: Triste, barbudo, gordo, de cabelo raspado, cantando, chupando dedo, em promoção. Mas não me encontrei.
Me anuncie no auto-falante.
- Shhhhh! Escuta! Tá ouvindo? Sou eu gritando!
Me escuta? Eu me escuto, mas escuto várias vozes, tão perdidas que não reconheço qual a minha própria voz. Essa não é; essa é a da criança séria. Esse grito é do adulto desesperado e aquele murmúrio de conchavo, é a de falar mal dos outros. A minha voz grita pelos cantos.
Aqui não faz frio, não tem abraço ou chuva de verão. Tem uma luz no fim do túnel, que tento alcançar por tanto tempo que a medida do tempo já não pode ser medida. Sempre chego a um passo de distância, mas nunca chego ao passo final.
Por fora, família, amigos, conhecidos, milhões de pessoas e eu aqui, sozinho. Dentro de mim.
Não dói. Mas aperta. Tem catarse e vontade de se cobrir na cama. As vezes desorientação. Entre as vezes, deslucidez; ao mesmo tempo que contínuo sóbrio.
Mas no dia que segurar nos seus braços, olhar além das suas pálpebras fechadas, abrirei minha boca esperando você me salvar do meu próprio desespero, mas lembre-se, leve uma corda e amarre bem forte do lado de fora, para que nos dois fujamos desse Minotauro que me aprisiona.
Me ajude por favor. Me salve você. Eu, eu já não posso me encontrar.
Série dos Textos o B_Arco de Segunda. Se você encontrasse essa mensagem dentro de uma garrafa boiando pelos mares a dentro, você me salvaria?