29 de agosto de 2007

Sem Crachá Não dá Para Almoçar

É mais fácil enfrentar o trânsito para a Praia Grande no feriadão do que almoçar em locais próximos a grandes empreendimentos comerciais ou área com concentrações de grandes empresas.

São manadas de funcionários, liberados todos ao mesmo tempo, que invadem os restaurantes da região como uma turba faminta ostentando seus crachás nos pescoços. Nem bem chegam e começam a espalhar seus identificadores com cordinhas coloridas sobre as mesas, como pichação de gangues rivais, disputando a maior mesa do estabelecimento, para que todos os coleguinhas sentem-se juntos, mesmo que, quem senta numa ponta mal e mal enxergue a pessoa da outra ponta.

Território marcado, marcham todos juntos para o buffet se empilhando como os pratos usados para se servir. A fila é tão grande e às vezes demora tanto, que o arroz colocado no prato já esfriou quando chega ao réchaud do feijão.

Enquanto isso, quem não está incluído no grupo: “Sim, nós temos crachás” vai criando varizes nas pernas na espera por uma mesa vaga, mesmo que em sua grande maioria, estas estejam sendo guardadas apenas por fotos 3x4 impressas em plástico branco. Como sentar no chão não é opção sob o risco de ser esmagado pela volta da faminta manada, resta se conformar e esperar com a bandeja na mão, ver a carne no prato emborrachar de tão fria, testemunhar o milagre do refrigerante que virou chá e a sobremesa, outra hora deliciosa, se transformar num pote com uma substância amorfa não muito apetitosa.

Depois de ter o estômago auto-digerido de tanta fome, mas finalmente ter conseguido uma mesa para degustar aquilo que um dia esteve dentro do prazo de validade, têm que enfrentar o mesmo grupo na fila do caixa, com a diferença que agora seus rostos estão um pouco mais inchados do que os crachás pendurados no pescoço retratam. São dezenas de pessoas passando seus VRs, cartões de débito e demorando horas para decidir que chocolates levarão.

Como jogar os crachás no chão e arrumar confusão não é uma boa opção por se estar em menor numero, o esquema é se incluir num grupo desses. Para isso nem é preciso mudar de emprego, basta criar um crachá pessoal, que servirá não para entrar na empresa em que trabalha, mas para reservar uma mesa. Afinal quem não tem crachá não senta. Ou senta?

20 de agosto de 2007

Rachando o Motel

A sociedade é cheia de paradigmas principalmente no relacionamento entre e homens e mulheres. Alguns já são considerados ultrapassados e tornaram-se cada vez mais normal no dia-a-dia. Os homens já aceitam dividir as tarefas do lar, enquanto as mulheres acham natural dividir as contas de restaurantes, das baladas, todas as contas, digo, quase todas, porque as horas de diversão orgástica no Motel, a maioria das mulheres ainda se recusa a pagar.

O que é um tanto quanto injusto, já que em 90% dos casos, o esforço maior ainda é do homem. Primeiro que, para levar a mulher até o portão do melhor parque de diversões do mundo já inventado, tem que no mínimo, pelo fator INC (Impressiono ou Não Como), levar para jantar, ser gentil, demonstrar ser inteligente e no final, obviamente, pagar a conta.

No quarto volta à questão do esforço, principalmente se é a primeira vez juntos, a pressão psicológica é enorme: “Não tem jeito, agora eu tenho que agüentar às 4 horas de pé para provar que eu sou bom! Humm, acho que eu não vou conseguir dar a terceira, vou mentir e dizer que acabou a camisinha? Oh meu Deus! Agora não! Agora não. Pensa na tia velha tomando banho gelado, pensa, pensa...”. Quatro horas depois de trabalho duro, o cidadão ainda tem que pagar a conta e levar a mulher para casa. Esforço nem todas as vezes bem recompensado.

Dilemas masculinos a parte, algumas mulheres argumentam que se recusam a rachar a conta do Motel alegando que já está dando e o cara se divertindo. E ela? Não se diverte? Não goza? Nem mesmo quando é uma daquelas homéricas capazes de deixar o Marques de Sade com vergonha e o Kama Sutra só servindo para peso de papel, onde os dois parecem ter acabado de ter atravessado o Saara correndo, a mulher não se diverte?

E se os papéis se inverterem e o cara começar a pensar: - Porra, eu já to fazendo o favor de comer ela, ainda tenho que pagar o Motel?

Quando é um daqueles raros casos das mulheres que não são muito chegadas a sexo - um fenômeno menos raro apenas que aquele das mulheres que não gostam de chocolates – que ela faz só para agradar o parceiro ou quando o cara é ruim de cama o suficiente para não conseguir se segurar mais do que 30 segundos e logo depois cair no sono, passa a ser obrigação do Senhor Precoce pagar a conta. Porque pagar pelo melhor lugar e receber o de meia-entrada não vale o investimento. Neste caso nem dá para se distrair assistindo a TV do Motel, já que o que passa ali não serve para nada se o parceiro já está roncando. Quando a situação se inverte: O cara espera horas para passear na montanha-russa e chega na hora H ganha uma volta no carrossel, não seria justo se a senhorita Estrela-do-Mar pagasse por essa conta?

Mas como todos os outros paradigmas, este também já não é regra. Algumas mulheres se sentem poderosas por pagarem à conta mesmo na primeira noite. “Querido você foi fantástico hoje, deixa que eu pago, você merece!” - tecla SAP - “Foi bom, mas eu sou muito bem resolvida e quando eu precisar te ligo, OK?”, mas o ego do homem não o deixa ouvir isso.

Que fique claro: Não é questão de dinheiro! Rachar a conta do Motel é apenas uma forma de demonstrar que os dois estão curtindo e se curtindo. Mesmo porque, na verdade, dentro do quarto de Motel não importa quem está por cima ou por baixo ou se a conta será rachada ou não, desde que o que saia rachado do Motel, seja a parede.